domingo, 11 de abril de 2010

Bento pouco bento

A Associated Press revelou uma carta assinada em 1985, pelo então líder da Congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal Joseph Ratzinger, e dirigida ao bispo John S. Cummins de Oakland (Califórnia, EUA), na qual o actual Papa se mostra preocupado com o bem da igreja, e por isso não afasta de imediato a padre e pedófilo Stephen Kiesle. De notar que Kiesle já tinha sido condenado em 1978 a 3 anos de provação por conduta lasciva com adolescentes em S. Francisco.

Pode ler-se na TSF:

«Uma série de cartas tornadas públicas sexta-feira pelo advogado Jeff Anderson descreve "as liberdades sexuais" do padre Stephen Kiesle, em 1978, com "seis adolescentes entre os 11 e os 13 anos", fatos reconhecidos pelo interessado perante a justiça, segundo indicou Anderson, advogado das vítimas.
Ao seu pedido, o padre Kiesle pediu para ser afastado, um pedido transmitido ao Vaticano pelo bispo de Oakland, John Cummins, em 1981.
O Vaticano respondeu ao bispo indicando que desejava obter informações suplementares sobre a questão.
As informações foram enviadas por John Cummins em Fevereiro de 1982 ao cardeal Joseph Ratzinger, futuro Bento XVI, então líder da Congregação para a doutrina da fé.
Na sua carta Cummins referiu estar convencido de que afastar o padre Kiesle "não provocaria um escândalo", acrescentando: "seria um escândalo maior para a comunidade se o padre Kiesle regressasse ao seu ministério".
Apesar dos pedidos repetidos da diocese de Oakland, foi necessário esperar até 6 de Novembro de 1985 para que Joseph Ratzinger respondesse a John Cummings.
Na resposta*, redigida em latim, o cardeal reconheceu "a gravidade" da situação, mas mostrou-se reticente em tomar uma decisão imediata, preocupado com o efeito que poderia ter sobre "o bem da Igreja Universal".
Para o futuro papa, o assunto devia ser alvo de "uma atenção específica, que necessita de muito tempo".
Quando leu a carta, o padre George Mockel, da diocese de Oakland, considerou que o Vaticano "ia adiar a questão até que Steve (Kiesle) ficasse mais velho".
"Penso que isso é deplorável", disse Mockel.
O padre Kiesle foi finalmente afastado em 1987.»

Kiesle foi finalmente julgado e condenado a 6 anos de prisão em 2004, depois de confessar ter abuso de uma menor em 1995 (!).

Um porta-voz do Vaticano disse que a carta fazia parte de uma longa troca de correspondência entre Roma e a Califórnia, e que não pode ser interpretada retirada do contexto original (???).

Pode ler a notícia também na BBC.


* Uma tradução para inglês, feita pela Associated Press, pode ler-se aqui.

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