quinta-feira, 16 de julho de 2009

O deus-das-lacunas

Quase todas as "provas" para a existência de deuses baseiam-se, pelo menos em parte, no argumento do deus-das-lacunas. Segundo este argumento, se não sabemos a resposta para algo, então "foi obra de deus". Não são precisas qualquer tipo de provas. Mas dizer que "foi obra de deus" será mesmo uma resposta? Vejamos: nós não sabemos de que são compostos os deuses, quais os seus atributos, não sabemos quantos existem, nem onde estão. Não sabemos onde é que eles estão, nem de onde é que vieram, ou como é possível que existam desde sempre. Não sabemos que mecanismos é que eles usam para criar ou mudar qualquer coisa, não sabemos o que é o sobrenatural, nem como é que interage com o mundo natural. Por outras palavras, não sabemos nada sobre os deuses, por isso dizer que "foi obra de deus" é responder a uma pergunta com outra pergunta. Não oferece qualquer informação, apenas torna a questão inicial ainda mais complexa. O argumento do deus-das-lacunas diz que nós, não só não temos hoje uma resposta naturalista, como nunca iremos descobrir uma razão naturalista, porque ela não existe. Por isso, para rebater o argumento do deus-das-lacunas, basta mostrar que existe uma razão naturalista possível. Por exemplo: Ao abrirmos a porta de uma sala, vemos um gato a dormir num canto. Fechamos a porta, e quando a voltámos a abrir, 5 minutos depois, o gato está a dormir no outro lado da sala. Alguém diz: "Foi obra de deus. Deus levitou o gato até ao outro canto da sala", (não apresentando qualquer prova). Outra pessoa diz: "É possível que o gato tenha acordado, e depois de caminhar até ao outro canto da sala tenha voltado a adormecer". Embora nenhum dos dois possa afirmar saber o que se passou, o argumento do deus-das-lacunas é pouco plausível, pois existe uma explicação natural possível. Num exemplo mais real, lembremos que os nossos antepassados não sabiam de onde vinha a chuva, ou os trovões. A sua falta de uma explicação levou-os a acreditar que eram obra de um deus, que se mostrava benevolente ou chateado conforme as acções do povo. Depois a ciência entrou em cena, e demonstrou como se forma a chuva e como se produzem os trovões, e por isso o argumento do deus-das-lacunas foi mais uma vez desacreditado.

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